quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Joaquim e a Inquisição

Por Pedro Lobo Martins

Ligo meu computador hoje pela manhã e vejo no facebook uma postagem de uma professora de História da UFMG, falando de Joaquim Barbosa:

“Infelizmente, a fama subiu-lhe à cabeça e o ministro Joaquim Barbosa está jogando para a platéia. Intempestivo e rude, quer passar para a história como o magistrado que combateu a corrupção. Por vezes, perde a compostura e o senso de justiça...
Estranho um juiz desconhecer que o excesso de zelo e a vontade de punir podem redundar em injustiça.
E, como na Espanha de Torquemada, a massa delira...”


Torquemada? Excesso de zelo?

Infelizmente é comum a muitas pessoas, ao sentirem suas ideias de justiça (ou seu partido político) de alguma forma atacados, partirem para o denegrimento dos algozes  (ou bodes expiatórios) que eles mesmos instituem. Seria bom ter sempre o cuidado de não pretender desmerecer as ideias, ações e posicionamento atacando as pessoas por trás delas ou mesmo suas motivações pessoais. Chegou-se ao cúmulo de se levantar a suspeita de que Barbosa estaria se aproveitando da toga para vingar-se do cativeiro enfrentado por seus ancestrais. Se a maior parte das críticas não foi tão fundo, muitas cutucaram desrespeitosamente a pessoa do magistrado.

Se as ideias são sempre discutíveis e as pessoas são sempre imperfeitas, apenas as primeiras, e não as últimas, são capazes de sustentar a democracia.  E é só na democracia que as pessoas (ou, como prefere pejorativamente a professora, a ”massa” delirante, a “platéia”) podem avaliar as ideias e gostar, ou não, de quem as defende.

Invertendo a questão: não é meu gosto pela extensa obra da professora no campo da história colonial mineira (sobretudo por seus estudos sobre a "Guerra" dos Emboabas) que me tornará um incondicional admirador de sua pessoa, que alias nunca conheci.

Comparações com a inquisição parecem-me fora de propósito e anacrônicas. Torquemada e seus pares defendiam interesses da Igreja Católica no contexto de uma Reconquista ainda incompleta e dos primeiros laivos da Reforma. As decisões do STF  (Barbosa, a propósito, não é o único a votar) são apenas um tiro contra uma instituição secular (em ambos os sentidos) e arraigada, que é a corrupção. E quem melhor do que os ministros do STF para julgar a corrupção, num país em que a justiça (sobretudo nas instâncias inferiores) não é exatamente cega e onde milhares de telhados são de vidro?

É estranho a professora notar a “descompostura” do ministro Joaquim Barbosa e não criticar a frieza e inconsistência demonstradas por Lewandowski no decorrer do julgamento. Se a polidez é desejável, nem sempre acolhe a razão. Como retorquiu o próprio Joaquim Barbosa ao revisor, após este fazer notar a “rudeza" do relator:



“Em qualquer atividade humana, urbanidade e responsabilidade são qualidades que não se excluem. Mas, às vezes, a urbanidade presta-se a ocultar a falta de responsabilidade. A propósito, é com extrema urbanidade que muitas vezes se praticam as mais sórdidas ações contra o interesse público.”

É sempre bom lembrar: muitos nazistas cometeram as maiores atrocidades sem se desviarem de sua frieza, de uma "urbanidade" e até mesmo da polidez.

Nuremberg e a história, felizmente, não os julgaram por sua compostura.



domingo, 11 de março de 2012

A Princesa escreve ao Conselheiro


























Um menino lê uma carta

Dentre as lembranças mais vivas da minha infância está a "carta do Conde D´Eu ". 
 
Ficava em um quadro emoldurado na parede dos fundos do escritório do meu avô Mauro, entre duas folhas de vidro, não sei se a cópia ou a original, o que, afinal de contas, não importa. Lá estavam, bem à mostra, aquelas letras cheias de floreios em um papel já amarelado, no fim do qual nós, que já conhecíamos da escola os nomes longos e leopoldinos dos tempos misteriosos do Império, distinguíamos um nome inusitadamente curto: Gastão de Orleans. E a data: 17 de novembro de 1889. 

Mas quem era o Joaquim Delfino, a quem era endereçada a carta? Minha avó Luiza explicava que era seu avô, pai de seu pai, amigo do Conde D´Eu e do próprio imperador, de quem era Conselheiro e a quem servira como ministro da Justiça, da Marinha, da Guerra e outros cargos pomposos. No dia seguinte estava com uma cópia, tirada de em uma gaveta, e menino orgulhoso, mostrava a todos os colegas da escola pública que frequentava. Mais que atiçar a vaidade infantil, a carta me mostrou que a história não estava apenas nos livros escolares. Correndo no nosso sangue, tornava-nos parte dela. E 1889, de uma data distante, passou a ser ainda ontem. 



                                                                O Conselheiro Joaquim Delfino Ribeiro da Luz  (1824 -1903)


Meus avós se foram e a carta foi parar na gaveta profunda - e cheia de coisas estranhas - da mesa do meu pai, em seu escritório. Lá ficou junto a rolos velhos de negativos, fotos desgarradas de meninos tristes com erupções de pele, vidrinhos com dentes de leite dentro e uma papelada danada. E a carta passou a ter todo o tempo do mundo para contar àqueles objetos “modernos” aquele e outros causos que se ouviam nos derradeiros momentos do Império, e, quem sabe, desde os tempos de D. João VI.

Certamente a velha carta, que o tempo tratou de dar vida, não a ela, mas às mãos que a escreveram e aos tantos dedos que a tocaram, hoje quietos, contou suas histórias em muitas outras gavetas. Ninguém sabe por onde andou: da gaveta de Joaquim Delfino à de seu filho Joaquim Bento? Da escrivaninha deste à de seu filho Joaquinzinho? Da mesa de cabeceira do tio Joaquinzinho à gaveta de sua irmã, minha avó? 

O fato é que, de esconderijo em esconderijo, foi parar na gaveta em que repousará para sempre, depois de 122 anos, no Museu Imperial de Petrópolis. Lá, entre tantas outras, poderá contar sua história, não a objetos de ouvidos moucos, mas aos olhos sempre vivos dos que se interessarem por sua pequena história.
 
Os documentos históricos e os objetos de família são como os livros: nunca serão nossos, mas apenas passam por nós. Sobreviverão a nós se formos seus bons e fiéis guardiães. 

A carta conta suas histórias

No início da década de 1860 Joaquim Delfino Ribeiro da Luz foi nomeado conselheiro do Império. Em homenagem à imperatriz Teresa Cristina, mãe da princesa Isabel e esposa de D. Pedro II, propõe então à câmara municipal da velha Espírito Santo do Cunquibus, da qual era presidente, uma nova denominação para o lugar: Vila Cristina.

Em 1868 a jovem Princesa Isabel, de 22 anos, e Dom Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o Conde D´Eu, seu esposo francês, fizeram uma viagem pelo sul de Minas. Os objetivos, aparentemente, não eram só amarrar laços políticos e retribuir favores: após quatro anos de casamento, a Princesa Isabel queria engravidar.

                                                                                        A jovem Princesa Isabel


É que ouvira falar das “águas virtuosas” de Caxambu. Conhecidas desde há muito pelos índios Cataguases que habitavam a região, a existência das fontes hidrominerais foi tornada pública apenas no início do século XIX, quando sua fama se alastrou. O interesse do casal imperial estava voltado mais especificamente para as fontes de águas ferruginosas. É que a Princesa sofria de anemia crônica e esta, segundo os médicos, era a principal razão desua infertilidade. Passou pouco mais de um mês em Caxambu, restabelecendo-se de sua anemia. 

Era hora de pagar promessas. Após orações públicas dirigiu-se ao alto de um morro e, em cerimônia ali realizada, lançou a pedra fundamental da Igreja de Santa Isabel de Hungria. Foi lavrada ata oficial e formada uma Comissão Construtora, subscrevendo-se para isso uma quantia razoável. Joaquim Delfino muito provavelmente estava presente.

                                                                                    As fontes ferruginosas D. Isabel/Conde D´Eu


Enquanto isso, uma grande movimentação quebra a calmaria da nova vila de Cristina: naquele primeiro dia de dezembro de 1868 as sinhás usam seus vestidos e joias mandados vir da Corte. Os coronéis penduram no peito suas condecorações, suas veneras. Chega então a importante comitiva imperial, vinda de Caxambu, a fim de agradecer a homenagem prestada pela Vila Cristina à mãe da princesa. Às onze horas da manhã o cortejo entra pela rua direita. Das janelas e sacadas descem colchas rendadas. A banda toca empolgada. A multidão de todas as cores grita vivas das ruas e do alto dos sobrados. Em seguida as pessoas importantes do lugar vão até a casa de Joaquim Delfino, anfitrião do casal real, para o beija-mão protocolar. Após o banquete, todos seguem para a Matriz para ouvir o Te Deum mandado celebrar pela câmara em ação de graças “pela feliz viagem de S.S.A.A e pela distincta honra que fizerão a esta Villa com sua vizita”. Às seis horas da manhã do dia seguinte a comitiva deixa Cristina.


                                                                                      A visita do casal imperial a Cristina foi motivo de grande festa


Algum tempo se passou e a Princesa finalmente engravidou. Entretanto, as primeiras gestações não tiveram sucesso, advindo vários abortos. A primeira gravidez que levou a termo resultou em uma menina que nasceu morta, após um trabalho de parto difícil, que durou mais de 50 horas, em que os quatro obstetras que a assistiam tiveram que abrir o crânio da criança para tentar fazê-la passar pelo canal. Foi só em 1875, onze anos depois de casada, que veio à luz D. Pedro de Alcântara. Mas o menino nasceu asfixiado em conseqüência de um fórcipe e sofreu lesões no braço esquerdo, que ficou paralisado. Isso lhe valeu o apelido de Mão Seca. Nos anos seguintes a realeza brasileira ganhou outros dois herdeiros, Dom Luiz Maria e Dom Antonio.


                                                                                                   O casal imperial e seus três filhos


A construção da Igreja de Santa Isabel da Hungria seguiu aos trancos e barrancos, mesmo após o nascimento dos três filhos desejados, embora outras promessas tenham sido cumpridas de forma mais imediata. Em 6 de novembro de 1884, por exemplo, ofereceu a Nossa Senhora uma coroa de ouro cravejada de brilhantes, que mais tarde, em 1904, coroou a Imagem de Aparecida como Rainha do Brasil, e em cuja cabeça repousa ainda hoje.


                                                                                              A coroa de Nossa Senhora de Aparecida


Dois dias após a proclamação da república, Isabel e esposo estavam a caminho da Europa a bordo da canhoneira Parnayba, que os levaria ao paquete Alagoas para uma viagem sem retorno. Pode-se apenas imaginar os pensamentos que inundavam os sentidos de Isabel, que vivera seus 42 anos em terras brasileiras; um nada, se comparado a toda uma longa vida aqui vivida por seu pai, o já idoso D. Pedro II.



                                                                                                       O paquete Alagoas


Entretanto, entre tantas aflições e pensamentos desencontrados, lembrou-se daquela promessa, feita anos antes, e, fazendo da pena de seu marido certamente eco de suas palavras, escreveu àquele com quem compartilhara a mesa 20 anos antes, em Cristina, e que, desde 1885, ocupara os cargos de Ministro da Justiça e Ministro da Guerra do Brasil. Joaquim Delfino, embora agora afastado do círculo de poder no novo regime republicano, lhe parecia o único capaz de lhe acalmar esta aflição, a aflição do exílio.


Exmo. Sr. Cons.ro Joaquim Delfino,
Tendo de retirar-me, bem com pesar meu, d´este paiz não quero deixar de mais uma vez recommendar à tua protecção, em nome da Princeza e no meu, a conclusão das obras da Capella de Santa Isabel de Hungria, no arraial de Cachambú, município de Baependy. Estas obras pias, projectadas desde seu começo pela Princeza, teve (sic) certo impulso principalmente devido aos esforços de V.Exa. e de seu illustre filho o distincto engenheiro Dr.Christiano Ribeiro da Luz.
Será para nós grande satisfacção saber que não fica ella abandonada, mas que marcha para sua conclusão. Confiando pois no espírito religioso de V.Exa. e de seu digno filho, e nos sentimentos de amizade que nos tens mostrado, ouso esperar que mais uma vez tomarás em mão este piedoso emprehendimento.
Aproveito com prazer esta opportunidade para reiterar-lhe a expressão dos meus sentimentos de particular consideração e estima.
Gastão de Orleans
Bordo da Canhoneira Parnahyba,
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1889”

Não se sabe exatamente como Joaquim Delfino intercedeu a favor da continuação das obras, mas elas prosseguiram, ainda que lentamente, tomando as feições do estilo neogótico tão característico das construções religiosas de fins do século XIX e primeira metade do século XX. A partir da década de 1890 as obras foram tomadas pelo engenheiro Honorato Pereira de Carvalho, sob os auspícios do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, 15 anos mais jovem que Joaquim Delfino. 

Mayrink era detentor da maior fortuna pessoal do Brasil na época, e seus interesses abrangiam todo tipo de negócio: bancos, companhias de estradas de ferro, iluminação a gás,  imprensa, teatros e diversos empreendimentos industriais. Em Caxambu deu início à exploração comercial das águas minerais, e hoje uma das fontes do Parque das Águas leva seu nome. Graças a ele a Igreja de Santa Isabel de Hungria foi finalmente consagrada, em 1897. Na França, onde cumpria exílio e onde veio a falecer em 1921, Isabel deve ter sorrido. O velho Joaquim Delfino, no Rio de Janeiro, também sorriu. Promessa cumprida.



                                                                                                                      A Igreja de Santa Isabel de Hungria


A carta vira notícia

 Em 13 de agosto de 2011 uma pequena comitiva formada por pelos bisnetos de Joaquim Delfino: Nelson Ribeiro da Luz Lobo Martins e seu irmão Mauro Lobo Martins Jr.,acompanhados das respectivas esposas Maria Josephina e Maria do Rosário, passou por Petrópolis. No Museu Imperial esperava por eles seu diretor, Maurício Vicente Ferreira Jr. Em uma cerimônia simples Nelson, seu penúltimo guardião, assinou o termo de doação da carta, que passou a uma gaveta daquela instituição, onde estará à disposição dos pesquisadores.




                                                  Nelson assina o termo de doação da carta ao Museu Imperial,
                                                  representado por seu diretor, Maurício Vicente Ferreira Jr.   


Assim noticiou o evento o site do Museu Imperial de Petrópolis:

 http://www.museuimperial.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2070:museu-imperial-recebe-doacao-de-carta-escrita-pelo-conde&catid=14:news-releases&Itemid=107

Museu Imperial recebe doação de carta escrita pelo conde d'Eu em 1889

Recentemente, o Museu Imperial recebeu uma importante doação para seu Arquivo Histórico. O médico Nelson Ribeiro da Luz Lobo Martins doou uma carta escrita em 17 de novembro de 1889 pelo conde d'Eu para Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, que foi magistrado, político e proprietário rural brasileiro. O Dr. Nelson é bisneto de Joaquim Delfino e recebeu a carta de seu pai, após o documento ter sido passado de geração em geração.

 Como a data aponta, a carta foi escrita dois dias após a Proclamação da República. O marido da princesa Isabel estava a bordo do navio Parnaíba, que levou a família imperial até o navio Alagoas para partir para a Europa rumo ao exílio.

 Na carta, o conde d'Eu solicita que Joaquim Delfino dê procedimento às obras de construção da Igreja de Nossa Senhora da Hungria, em Caxambu (MG). A igreja havia começado a ser construída em 1868, em cumprimento a uma promessa feita pela princesa Isabel.

 A correspondência passará a integrar o acervo do Arquivo Histórico, que conta com mais de 200 mil documentos, incluindo cartas, fotografias, ilustrações e outros.

Esta informação foi replicada por pelo menos vinte e sete outros sites de notícia, entre eles: Folha on-line, O Globo, Jornal Floripa e Tribuna de Petrópolis, além de sites de diversas instituições museológicas.

  
A beleza de uma carta

 
Apenas uma carta amarelada pelo tempo, escrita a caminho do exílio. Mas onde podemos encontrar a beleza, fora da perfeição da natureza, senão nos nossos pequenos gestos de desprendimento, em meio à dor, humanos e falíveis que somos?






...

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sweet Dreams















Começava uma linda manhã. O sol fresco da Chapada Diamantina irrompeu através da corrubiana, no alto da serrania, para aquecer de leve o meu rosto, enquanto abria a janela do quarto da pousada, em Lençóis.

E então, inspirado, criei esta música. Uma música solene, como aquelas montanhas. Um pouco triste, talvez, como a solidão. Mas tem um pouco da alegria esperada do porvir. Por isso é uma música de amor. Amor pela minha noiva, hoje minha esposa. Enquanto doces pensamentos me embalavam a alma, já cantarolava: "sweet, sweet dreams that play with the morning..."

E em seis de outubro de 2000 aquela música foi tocada à minha entrada na Basílica. Naquele momento, ao fitar aquela grande porta de madeira, escutei o coro cantar: bring her fast, fast, fast to me!.

And beautiful she came!
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Nas imagens, uma outra paixão: as grutas. Sua imensidão silenciosa torna-nos subitamente conscientes de nossa própria dimensão.

Mas se a nossa matéria é pequena, insignificante, nem mesmo os mais amplos salões do mundo, os mais vastos oceanos ou as mais altas montanhas são capazes de impedir nossos sonhos de alçar seus mais ousados voos. E transcender todos os cumes.

Die Gedanken sind frei, wer kann sie erraten?
sie fliegen vorbei wie nächtliche Schatten.

Os ruidos de fundo, estes são inevitáveis...

 


It was a lovely morning. The cool sun at Chapada Diamantina broke out through the mountain fog, high above, and gently warmed my face as I opened the window of my hotel room, in Lençóis.

An then, inspired, I made this song up. A solemn song, like those mountains. A little sad, perhaps, like solitude. But it transpires some of the joy yet to come. It is thus a love song. Love for my fiancée, now my wife. As sweet dreams rocked my soul, I saw myself singing: "sweet,sweet dreams that play with the morning..."

On October 6th 2000 that very song was performed as I walked along the Basilica's alley. And then, as I stared the great wooden door, I heard the choir sing: bring her fast, fast, fast to me!

And beautiful she came!
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The images are of another passion: caves. Their silent, sheer magnitude suddenly makes us aware of our own dimension.

But if our bodies are small, insignificant, not even the greatest among all cave chambers, the widest oceans or the highest mountains are capable of keeping our dreams from undertaking the most daring flights. And transcend all summits.

Thoughts are free, who can guess them?
They flee by like nocturnal shadows.

As for background noise, it is unavoidable...





terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Sobre lobos, ovelhas e maus pastores













Por Pedro Lobo Martins

Uma das principais preocupações dos europeus é continuar sendo o centro do mundo. No afã de manter sua auto-estima, são continuamente estimulados por uma história riquíssima e uma cultura madura, em que, infelizmente, se combinam elementos profundamente democráticos com uma tendência avassaladora à centralização política, que tantas vezes desembocou no fascismo.

Sofrendo de distúrbio bipolar crônico, a Europa alterna fases de euforia econômica, em que sua raiz democrática aflora, com momentos em que afunda no abismo das incertezas, porta para o inferno do totalitarismo.

A raiz dos males na Europa é a mesma de tantas economias do mundo atual e de tantas famílias, que repetem o mesmo erro de sempre: um desequilíbrio, no longo prazo, entre receitas e despesas. Tão simples assim.

O problema não está no capitalismo, mas na natureza humana. Nenhum sistema dá conta por inteiro da nossa mania de querermos sempre mais e de sermos melhores que os nossos vizinhos. As utopias socialistas, como pretendem ignorar os manifestantes da foto acima e como já provou a história, são as que mais se distanciam da nossa essência.

O problema está na mania neo-keynesiana dos governos e das mentalidades que os sancionam, em todo o mundo, e que, cada vez mais absortos na ciranda do populismo e do politicamente correto, aviam receitas que incluem, entre seus ingredientes, o comprometimento de recursos do contribuinte para financiar uma máquina estatal agigantada da qual o sistema bancário, confundindo sua razão precípua, se tornou seu maior sócio.

As pessoas têm razão em demonstrar contra os governos, mas pelos motivos errados. Muitos de seus empregos foram criados e mantidos por dinheiro de mentira, sem lastro, criado por governos neo-keynesianos perdulários, ainda que democraticamente eleitos, e seus bancos associados, que ninguém deixa quebrar. A bolha que agora estoura não é a do capitalismo, mas a do pseudocapitalismo de Estado que o distorceu e em que todos, inocentemente, continuam acreditando.

A armadilha está montada na Europa e, por extensão, para todo o mundo, e os buracos são dois: os totalitarismos de direita e de esquerda. Entre as alternativas, a que permanece em segundo plano, atrás dos prados verdejantes do populismo travestido de politicamente-corretismo, é a do realismo: colocar as instituições para fazer aquilo para que foram feitas, desde séculos atrás, sem distorções. Bancos emprestam para quem pode pagar. Governos não gastam o que não podem e não devem. As pessoas cuidam de suas vidas. A justiça funciona.

Só assim se poderá domar o lobo insaciável que há em todos nós, garantindo, ao mesmo tempo, sua liberdade.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Why Architecture Matters, por Paul Goldberger


 









Por Pedro Lobo Martins

Vitruvius, escrevendo no primeiro século AD, definiu os três elementos primordiais da arquitetura como comodidade, solidez e prazer. Paul Goldberger foi mais além: um edifício deve ser útil, bem construído e visualmente agradável, é certo, mas a arquitetura começa realmente a importar na medida em que, não obstante essas três facetas fundamentais, mais ligadas à funcionalidade e à praticidade, adquire qualidades de Arte. A arquitetura importa quando, podendo gerar prazer, pode também nos tornar infelizes; quando, podendo nos trazer o conforto do íntimo e do familiar, tem o potencial de nos deixar perplexos em meio à grandeza dos grandes espaços; quando, aliviando as nossas necessidades, pode satisfazer também os nossos desejos.

A arte pode ser definida principalmente pela intenção. Também a arquitetura possui essa qualidade, mas nela a intenção traduz-se pelo seu caráter civilizatório. Goldberger entende que a arquitetura importa quando, mais do que edifícios individuais, pode criar uma fábrica urbana que acaba por se tornar o substrato da civilidade e da civilização. Valoriza, assim, a ligação estética entre edifícios vizinhos como elemento desejável na composição urbana (isso nos faz comparar a cacofonia visual de uma cidade como Belo Horizonte com a harmonia urbana de uma Paris).

Com a invenção da prensa, no século XV, a arquitetura deixou de ser o principal veículo de propagação de ideias, como observou Frank Lloyd Wright, e o seu propósito teve que ser rediscutido. A leitura que Wright e outros modernistas fizeram da situação é a de que as ideias do passado deveriam permanecer no passado, tornando-se inútil – para não dizer imoral – procurar reinventá-las. Os modernistas inauguraram a noção do “estilo de época”, desconhecido até o século XX. Para Goldberger, talvez tenha sido excesso de pretensão.

Isso porque, para ele, a arquitetura importa quando logra comunicar sua mensagem, que transcende o puramente funcional, e foca-se no belo. Afinal a forma, a escala, a proporção, a textura e a relação com o contexto do entorno dizem muito mais sobre o sucesso de um edifício do que as associações estilísticas que aplicamos a ele, ainda que estas se curvem às vicissitudes dos tempos. E que tempos estes, pós-modernos, em que "o gosto é a única moralidade". E Ruskin ainda diz: “Dize-me de que gostas e eu te direi quem és”. De qualquer modo, sobre a labilidade das preferências, individuais ou sociais, Goldberger pretende que deva prevalecer a estética do espírito.

A alienação espiritual que se observa nos grandes centros poderia estar ligada à perda da sensibilidade estética pela maior parte das pessoas. Goldberger cita Christian Norberg-Schulz, para quem está em curso a perda de senso de lugar na sociedade contemporânea, que se reflete na perda de um entendimento poético do mundo: “a vida, de fato, não consiste de quantidades e números, mas de coisas concretas como pessoas, animais, flores e árvores; de pedras, terra, madeira e água; de cidades, ruas e casas; do sol, da lua e das estrelas; das nuvens, da noite, do dia e da mudança das estações. E nós estamos aqui para nos importar com essas coisas.”. A arquitetura importa porque pode trazer o belo para mais perto das pessoas; porque pode tornar as pessoas mais sensíveis ao belo e, assim, mais felizes.

Goldberger considera as possibilidades de criação e desafio estético inesgotáveis. Mas se as possibilidades da ciência e da tecnologia, por mais que se pretenda o contrário, são limitadas, as do espírito sensível ao belo nunca serão.



sábado, 29 de outubro de 2011

A Exploração


Por Pedro Lobo Martins

Adaptação do bonito poema de Raimundo Correia: A Cavalgada

Este soneto é uma homenagem àqueles que, mais do que exploradores dos mundos subterrâneos, são grandes amigos das grutas. A ponto de estarem dispostos a deixar partes de suas almas nos labirintos onde, quem sabe um dia, serão capazes de reencontrá-las - apenas para mais uma vez as  deixarem por lá...
As grutas são uma metáfora da vida: apenas passamos por elas; e, embora não sejam infinitas, como talvez desejássemos, nos mostrarão seus infinitos mistérios, se bem procurarmos.
 

                                                                                                        Foto: Pedro Lobo Martins

A Exploração

A noite banha a solitária dama...
Silêncio!... mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Das vozes que dão alma à crua chama.

São pessoas que vão rumo ao incerto;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando,
C'os olhos a brilhar vão perscrutando
As sombras mudas do gentil deserto...

E a gruta ecoa, move-se, estremece...
Dos exploradores a visão fluente
Perde-se então no fundo da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce,
E límpida, sem mácula, premente,
A noite a solitária dama banha...



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Theodore Dalrymple



                Theodore Dalrymple, pseudônimo de Anthony Daniels, é um psiquiatra inglês de 62 anos com larga experiência clínica em prisões  e hospitais de diversos países. Suas ideias, consideradas conservadoras, partem da crítica aos círculos intelectuais que minimizam a responsabilidade individual e assim desumanizam as pessoas, contribuindo para a formação, em vários países, de uma subclasse afligida pela violência endêmica, pela criminalidade, pela dependência do Estado e pelo abuso de drogas. Dalrymple publicou alguns livros, todos inéditos no Brasil, que vêm dando o que falar. Mais recentemente li Life at the Bottom (2003). A seguir, um pequeno resumo das principais ideias ali expostas:

                Para Dalrymple, o comportamento humano não pode ser explicado se não for correlacionado aos significados e intenções que as pessoas conferem aos seus próprios atos. Para ele, as pessoas podem ser divididas em dois grupos: aquelas que se responsabilizam pelo que fazem e aquelas, os pobres coitados, que externalizam a responsabilidade – e a culpa – por suas ações, transferindo toda a cadeia de causalidade a outras pessoas ou circunstâncias. Todos transitamos pelos dois extremos: a diferença é de grau.

                Esse segundo grupo de pessoas coloca-se no lugar de meras vítimas de forças sociológicas e econômicas poderosas e ocultas. Ocultas? Não tanto. Os intelectuais e acadêmicos dos últimos cento e cinquenta anos puseram-se a serviço de desvendar essas forças, criando uma dicotomia sociológica que fortaleceu aquela divisão entre as pessoas e a transmutou, separando aqueles que se encaixam na categoria de homens dos que, bem, não são tão humanos assim.

                Tamanha condescendência serviu a seu propósito: muitas pessoas começaram a sentir-se, bem, menos humanas. A racionalização de atitudes tornou-se disseminada. Afinal, justificativas “científicas” de cunho sociológico, econômico e psicológico agora passaram a existir. Livres de constrangimentos que operaram durante séculos, esta casta não-humana agora pode dar-se a realizar abortos via Kung Fu; a espancar esposas e abandonar seus filhos; a cometer todo tipo de violência contra o indivíduo e contra a sociedade; a tornar-se ainda menos humana através de drogas e, assim, tornar ainda mais “justificáveis” seus atos. A explicação, cada vez mais, passou a confundir-se com a justificativa.

                O relativismo moral, cultural e intelectual engendrado pela academia permeou toda a sociedade e fez nascer o indivíduo relativo, sem certezas, sem opiniões e sem responsabilidade pelos próprios atos. Mas no momento em que a educação se torna relativizada acontece o pior: o indivíduo se torna prisioneiro das condições sociais em que nasceu. O relativismo educacional e lingüístico transformou uma classe social em uma casta fechada, selada, imobilizável. Mas esta é a intenção de alguns intelectuais, ansiosos por manter suas posições acadêmicas e que não deixam de esforçar-se por deixar transparecer a seus pares sua visão ampla e “democrática” de mundo.

                “Vítimas” das diversas externalidades, esta casta pode o que os “humanos” não podem: transgressões normalmente não toleradas aos demais cidadãos são vistas com lentes mais nebulosas e condescendentes do que para com aqueles: pequenos furtos são tolerados, assim como a vandalização de bens públicos e a ocupação dos mesmos. A violência de sua parte é vista como uma válvula de escape perfeitamente aceitável. Afinal, por que vitimizar essas "pessoas" ainda mais? Excluem-se os “não humanos” das regras feitas apenas para os “humanos”, os únicos que as podem compreender e que, ao mesmo tempo, pós-modernamente se contêm ao fazer julgamentos morais sobre aqueles que julgam estarem aquém da condição de humanos.

                Para que, diriam os intelectuais da esquerda, abandonar a nossa weltanschauung? Deixem os milhões de pobres coitados, atores e vítimas da violência, sofrerem, desde que nosso senso de superioridade moral permaneça intocado, assim como a visão de mundo predominante, criada por nós. A liberdade, para eles, está no que deveria ser, e não o que é; está na cabeça das pessoas, não nas suas atitudes. Acreditando, como Rousseau, na pureza original da alma humana, esses intelectuais não atribuem a essa mesma alma o que só uma natureza humana não tão pura assim (a real) sempre acaba por deixar transparecer.

                Minha nota pessoal: muito harsh?  Talvez. Mas não demais, nestes tempos. A esquerda, utópica, desconsidera a natureza humana, ou a relativiza. A cada um de nós cabe avaliar as situações, dentro dos parâmetros da ética, e tomar decisões. A virtude como ideal está em transformar em atitudes apenas as decisões certas, o que infelizmente apenas poderá ser verificado a posteriori. No final, a última palavra e a última atitude são sempre nossas. Mas por que com o eventual preço a ser pago por elas deveria ser diferente? No responsibility, no freedom.

sábado, 13 de agosto de 2011

Entre Filhos e Pais



Relembro aqui três poemas. Cada um, a seu modo, expressa sentimentos comuns, universais, entre filhos e pais, entre pais e filhos.  Todos eles, porém, traduzem a angústia que se acerca dos filhos ao relembrarem seus queridos pais, falecidos; ou semelhante angústia que assola os pais ao se verem longe de seus filhos e que uma carta mal remedeia, ou ainda que lhes assoma na alma ao vislumbrarem a possibilidade de não estarem por perto quando forem mais necessários aos seus filhos. A angústia que se traduz por saudade, presente ou futura.


De Americo Lobo Leite Pereira para seu pai Joaquim Lobo Leite Pereira




Américo Lobo
Américo Lobo Leite Pereira (1841-1903) era filho de Joaquim Lobo Leite Pereira (1818-1856) e Ana Leopoldina Xavier de Araújo (1825-1863). Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1862. Depois de atuar como juiz nos termos de Pouso Alegre (1863) e Rio Pardo (1865), ingressou na política e, pelo Partido Liberal,  foi eleito Deputado provincial (1867-1870). Em 1870 mudou-se para Leopoldina, na zona da Mata, onde se dedicou à propaganda republicana. Proclamada a República, foi brevemente governador do Estado do Paraná (1890) e em seguida eleito à Assembléia Constituinte, sendo senador por três anos pelo Estado de Minas Gerais. Em 1894 foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal. Foi casado com D. Manuela Urbana de Queirós e faleceu no Rio de Janeiro em 1º de outubro de 1903.


Era irmão de Fernando Lobo Leite Pereira, advogado, Ministro das Relações Exteriores;

Fernando Lobo em 1891


Também eram seus irmãos Francisco Lobo Leite Pereira (engenheiro e historiador diletante, autor de Descobrimento e Devassamento do território de Minas Gerais), além da primeira árvore genealógica dos Lobos...

... e Joaquim Lobo Leite Pereira (1854-1902), nosso trisavô, médico e membro do Clube Republicano de Cataguases, casado com sua prima Maria do Carmo Monteiro Lobo, avós de Mauro Lobo Martins, do segundo poema, abaixo.

Joaquim Lobo
Seu pai, Joaquim Lobo Leite Pereira, nascido em Congonhas do Campo em 1818, mudou-se para Campanha, onde foi professor da cadeira de filosofia e retórica, obtida através de concurso. Lá Joaquim casou-se com Ana Leopoldina Xavier de Araújo, de família campanhense. Joaquim faleceu ainda jovem, em 1856, aos 38 anos, deixando órfãos de pai os quatro filhos, com cuja educação muito concorreu o tio dos meninos, o Barão de Parima Francisco Xavier Lopes de Araújo.

Joaquim Lobo Leite Pereira (1818-1856)

Américo Lobo teve intensa atividade literária. Ainda estudante mostrou-se exímio orador; colaborou no jornal “Sul de Minas” e apoiou a campanha pela criação de um Estado separado no sul de Minas Gerais. Fundou, em 1863, a associação “Palestra Campanhense”, onde se discutiam teses filosóficas, jurídicas, literárias, artísticas e econômicas. Entre elas, de sua autoria: como são transmitidas em nossa alma as impressões do mundo externo?; que é a liberdade no sentido filosófico e político?; O Brasil e a colonização.

Foi autor de várias poesias, uma das quais transcrevo aqui. Reflete a saudade de seu pai, precocemente desaparecido quando Américo tinha apenas 15 anos.


Meu Pae – Joaquim Lobo Leite Pereira

Nas horas mortas ao tombar da noite
...Sósinho o vejo e minha dôr se afina!
Mortalha branca fluctuando incerta,
Cobre-o a neblina!

Da campa surge - mysterioso e lugubre
Chorando a vida o infeliz vagueia;
E no seu tumulo de flores orphão
Ninguem pranteia!

A sombra é muda - nem um ai ao menos,
A voz querida se apagou na morte!
Espaço breve não folgou na vida,
Curvou-se à sorte!

Em meus amplexos estreital-o quero,
Augusta sombra foste meu pae!
Gelado frio de hybernal sepulchro
No amor se esváe!

Vem… é sagrado e santo o amor de filho,
De negro crépe revestiu-me o dó,
Antes que murchem primavera e flores
Serei eu pó!

Não chores não - viver meu pai que val?
Prazeres castos no paúl se somem!
Louco chamou-te o mundo - oh! vil é elle,
Poeira o homem!


De Pedro Martins Pereira para seu filho Mauro Lobo Martins

Pedro Martins Pereira

Pedro Martins Pereira nasceu em 13 de outubro de 1877 na Fazenda das Palmeiras, em Grão-Mogol, Minas Gerais. Ainda jovem mudou-se para Cataguases, onde se casou, em aos 24 de julho de 1900, com Elvira Lobo Leite Pereira, sobrinha de Américo Lobo Leite Pereira e neta de Joaquim Lobo Leite Pereira. Tiveram três filhos, Jairo, Euro e Mauro Lobo Martins tendo sendo este último o mais velho, nascido aos  dois de agosto de 1904. Para maiores informações biográficas, veja Pedro Martins Pereira e Mauro Lobo Martins, de julho de 2011, neste blog.

O jovem Mauro (nosso avô) fazia os preparatórios no Rio de Janeiro quando escreveu sua primeira carta ao pai, e este marcou a ocasião no poema abaixo:

Ao Mauro

O que me poz no olhar brilhos de aurora
E o pensamento me fez todo enflorar
Não foi o azul do céu nem foi o olhar
De alguma linda fada encantadora!...

O que me fez sorrir, me faz cantar
E põe-me assim alegremente agora,
Veiu de muito longe, de onde mora,
Por quem fico de joelhos a rezar!

O que minha alma poz de gosos farta
E deu aos meus pensares novo brilho:
Foi a mais simples, mais ingênua carta

Que tenha transitado no correio...
Foi a primeira carta de meu filho,
Que guardo no mais intimo do seio.


De Hermínio Conde para sua filha Josephina Conde

Hermínio dos Santos Conde, nosso bisavô, nasceu em Passo do Camaragibe, Alagoas, aos 23 de julho de 1879, tendo passado sua infância em Penedo, onde seu pai, João Antonio dos Santos Conde, foi agente alfandegário. Estudou ainda em Maceió e Aracaju, e em 1895 seguiu para o Rio de Janeiro, matriculando-se no Mosteiro de São Bento, onde aprendeu o ofício de telegrafista. Transferiu-se para o Piauí pouco depois, já como telegrafista, fixando residência em Piracuruca. Aos 15 de agosto de 1900 pediu a mão de Azulina de Moraes Britto em casamento, recebendo resposta afirmativa quatro dias depois. Aos 30 de março de 1901 casavam-se. Escritor e poeta, colaborou na imprensa piauaiense, deixando, além de várias poesias inéditas e traduções (sabia latim, francês e inglês), a obra póstuma “Sombras”. Hermínio e Azulina tiveram cinco filhos: Josephina Conde, Linda Conde, Augusto Conde, Herminio Conde e Pedro Conde

Josephina Conde

Linda Conde
      Augusto de Moraes Britto Conde, nosso avô, mudou-se para Belo Horizonte, onde se formou em engenharia. Casou-se em Pitangui com Hercília Lopes Cançado. Faleceu em Belo Horizonte aos 43 anos de idade, em 1947, deixando três filhas pequenas e um filho por nascer.

Augusto Conde
      Hermínio de Moraes Britto Conde foi médico, cientista, poeta e jornalista. Fez Curso de Especialização em Lisboa, Paris, Viena e Berlim. Dirigiu o Instituto Benjamim Constant, do Rio, e o Centro de Pesquisas Oftalmológicas. Foi o inventor do aparelho coagulador para o tratamento do tracoma. Pertenceu à Academia Piauiense de Letras. Bibliografia: “Meninos Delinqüentes”; “Cochrane, Falso Libertador do Norte”; e “A Tragédia Ocular de Machado de Assis”.

Hermínio Conde
      Pedro de Moraes Britto Conde foi Magistrado, jurista e professor. Foi Promotor Público, Juiz de Direito, Procurador da Fazenda, Desembargador. Presidiu o Tribunal Regional Eleitoral e o Tribunal de Justiça do Piauí. 
Pedro Conde

Para sua filha mais velha, Josephina, Hermínio escreveu o soneto:

    Original de "Presentimento" - clique para ampliar       


Presentimento

Oh! Que eu não possa eternizar-te o nome,
minha Filha dilecta, estremecida!
Que eu haja de findar a curta vida
nesta lucta feral que me consome!

Não é morrer que eu sinto. A morte assome,
venha ante mim a horrível homicida,
não tremerei siquer; a fronte erguida,
bem calmo, deixarei que farte a fome.

O que me doe, o que me punge na alma
fundo, bem fundo, o que me rouba a calma,
num horrível martyrio sem igual,

é  que, na idade em flor da adolescência,
eu tenha de acabar minha existência,
sem haver realizado meu Ideal!



Hermínio faleceu de uma meningite fulminante pouco tempo depois, na tenra idade de 27 anos. Seu temor se concretizou: não pôde ver crescerem os filhos, que ficaram órfãos de pai. Faltou-lhes quando mais seria necessário.

         Herminio dos Santos Conde        


Que esses três poemas sirvam como homenagem aos pais que se foram, e que hoje são nossos bisavós, trisavós, tetravós...  distantes no tempo e ainda assim tão próximos de nós!

Pedro Lobo Martins - agosto de 2011