sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tempus Fugit, ou De Olhos bem Abertos




Por Pedro Lobo Martins

As manifestações agradam-me aos olhos e aos ouvidos (à parte os vândalos, é claro). É que tem gente de todas as cores nas ruas, ainda que muitos não saibam, e nem queiram, definir-se ideologicamente. Tem gente da esquerda e da direita. Isso traz uma grande riqueza às discussões que, agora e no futuro próximo, vão procurar explicar o que está acontecendo.

Muitos jovens de classe média, que não conheceram as sangrentas lutas ideológicas das décadas de 60 e 70, e que, portanto, nunca precisaram escolher um lado (militantes versus militares, como era obrigatório até pouco tempo), agora dizem com todas as letras de seus cartazes que nem um nem outro daqueles lados os representam. Vão às ruas sem bandeiras. Vão às ruas com seus brados fortes e retumbantes dizer que a era do maniqueísmo das cores acabou e que uma rosa não representa, necessariamente, o bom e o belo.





Daí, talvez, sua intolerância pelas bandeiras, ainda que vermelhas. Vermelhas? Sim, a antiga cor da juventude, das marchas de braços dados ou não em que se caminhava e cantava e se seguia a canção. Aquele disco arranhou, a canção ficou fora de moda. A geração '68 cumpriu seu papel, mas os tempos agora são outros, aquelas águas passaram. O maniqueísmo ideológico deu lugar a um arco-íris de ideias que não brilham mais apenas em tons de vermelho ou de azul. Foi o que o Movimento Passe-Livre, o PSOL, o PSTU, o PCR e outros anacrônicos partidos "de bandeira" aprenderam a duras penas nas ruas.  Não foi a Globo, a Veja ou qualquer outro veículo da grande mídia "reacionária" que levou essa nova leva de pessoas às ruas. Foram as pessoas mesmas, com seus próprios pés no chão, cartazes na mão, um grito na garganta e muitas ideias na cabeça.





Talvez o PT não tenha percebido tudo isso. Lula e Dilma não perceberam isso. Poucos políticos perceberam isso. O cavalo selado passou e passou e passou nesses 10 anos e ninguém pensou em montá-lo para promover a Reforma Política!

É o que leva a nova geração às ruas e, no fundo, a faz bradar.







segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pão e Circo




Por Pedro Lobo Martins

Esta história toda de protestos tem sido ótima. Ótima porque pessoas adormecidas têm acordado. Mas alguns aspectos do que tenho lido e assistido têm me incomodado:

1- Onde estão as pessoas das classes D e E? Parece que só os setores politicamente organizados/ intelectualizados, sobretudo da extrema-esquerda, inicialmente (PCO, PC do B e PSOL) e, mais recentemente, uma parte menos alienada da classe média, vão para as ruas. Isso mostra, talvez, que enquanto houver pão e circo, digo, bolsa-família e futebol, carnaval, novela e afins, o cidadão comum vai  continuar "feliz" e não vai sair da sua zona de conforto.

2- Tanto a esquerda quanto a direita querem se apropriar do movimento.
A esquerda fica indignada porque começou tudo e estarrecida por não ver o povão nas ruas. Mas tem que ver a "elite" nas mesmas ruas e no facebook, essa elite que, tendo a barriga cheia, os bolsos recheados e o cérebro cultivado, não teria o direito de reclamar de nada (???). A direita, por sua vez,  quer capitalizar a questão, sobretudo depois da desconcertante vaia ouvida pela presidente, para seu projeto de oposição. Mas a verdade é que o movimento se configura agora como uma clássica gota d´água em que as ideologias se misturam e se confundem, tomando as feições de um basta à corrupção geral em todos os setores, à impunidade e aos gastos enormes para as copas das Confederações e do Mundo.

3- Nessa miscelânia de diferentes indignações, ideológicas e sem ideologia, da esquerda e da direita, o resumo geral de intenções parece recair, infelizmente,  sobre o governo: as pessoas querem mais governo. O problema é que é exatamente o governo a fonte das mazelas que nos afligem, desde a ineficiência do transporte público até a falta de saúde e educação da população, com toda a corrupção que vem a reboque. O que falta não é mais governo: falta (muito) menos governo.

Estamos todos certíssimos em reclamarmos dos gastos altíssimos com estádios de futebol e com a infra-estrutura específica que pouco tem a ver com as reais demandas da população. Os turistas não são mais importantes do que nós e nossos filhos. Nem os empreiteiros amigos dos políticos (vide meu post anterior sobre Clésio Andrade). O bom turista percebe muito bem o que é mera maquiagem e o que é feito para ficar. Nós mais ainda. E o que se faz para ficar é saúde, educação e segurança.


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Não está na hora de pedirmos tarifa-zero. Enquanto houver governo na conversa as tarifas serão altas e pagas pelo contribuinte, ainda que os ônibus sejam de graça. Enquanto houver governo, seus amigos, que incluem os concessionários, ganharão às custas de (mais) taxas e (mais) impostos pagos pela população. Está na hora de pedirmos, nas ruas e nas redes sociais, que o governo faça aquilo que é sua função precípua: escolas-dez, uma rede de assistência à saúde-dez, um sistema jurídico ordenado e eficiente e uma polícia-dez capaz de proteger a população, e não de espancá-la. Isso é pra ficar. Do resto, boas leis, um Estado de Direito e a livre concorrência dão conta.

não seja este cara!


Pra começar, é preciso querermos e exigirmos.