terça-feira, 9 de agosto de 2011

Crise! 1- Bolhas se Desfazem



Os Estados Unidos são a locomotiva econômica do mundo, e na última década, mas principalmente a partir de 2004, esse papel se exacerbou de uma maneira singular. Com crédito barato correndo solto, o mercado imobiliário americano atingiu níveis recordes em 2006, e os consumidores americanos, ancorados pelo valor ascendente de suas casas, começaram a consumir como nunca. Em um processo contínuo de desindustrialização e consumindo produtos do mundo inteiro, a locomotiva causou crescimento econômico em toda parte.

E o governo americano entrou na festa. O seu déficit aumentou 550% desde 2007; a quantidade de dinheiro em circulação aumentou 200% desde 2008. A dívida pública americana, que foi de 8,5 trilhões em 2006, deverá passar a mais de 15 trilhões no final de 2011. Se a bolha imobiliária, que se desfaz, deu panos pra manga, a bolha criada pela dívida americana é muito maior e perigosa. Apesar do profundo interesse dos credores, entre os quais China e Japão têm lugar de destaque, em segurar o dólar, quem vai querer continuar a financiar essa dívida ad aeternum?

Em 2008 as bolsas de valores de todo o mundo despencaram, puxadas pela crise imobiliária americana. Ao invés de procurar lidar em termos realistas com a bolha que se desfazia, o Banco Central americano tratou de inflá-la ainda mais, puxando Wall Street de volta a níveis pré-crise Toda essa atividade econômica foi recuperada através de mecanismos de Quantitative Easing (QE), que nada mais são do que colocar a prensa para fazer dinheiro, junk currency que foi despejada na economia. Esse excesso de dinheiro deu, junto com o endividamento crescente do governo e das pessoas, uma sobrevida ao dólar e às bolsas mundiais, levando o mundo a acreditar que a fase down da economia estaria cedendo lugar a uma fase de crescimento sustentado, configurando apenas mais um ciclo econômico.  Mas o que se estava fazendo era apenas inflando um pouco mais as diversas bolhas, que teriam estourado na crise de 2008 não fossem as intervenções governamentais.

A verdade é que o mundo inteiro se beneficiou do crescimento bolhoso dos Estados Unidos e, portanto, o crescimento do mundo também configurou uma bolha. Este crescimento puxou a demanda mundial por energia, fazendo escalar o preço do petróleo, que chegou a U$140,00 o barril em 2008, fazendo girar a roda econômica da Rússia e dos demais países exportadores de petróleo. A demanda crescente por minerais, como ferro e cobre, alimentou o crescimento de países como Austrália, Canadá e Brasil. A economia bolhosa dos Estados Unidos fez a bolha do mundo inflar. Quando ela se desfizer, em breve, o impacto global será imenso.

O problema é que um crescimento econômico sobre bases que não se ancoram em determinantes econômicos reais simplesmente não se sustenta. E os governos têm cada vez menos margem de manobra para evitar o pior. Com capacidade de contrair novas dívidas cada vez menor, e a juros crescentes, restará ao governo americano e de outras partes do mundo uma solução que se repete historicamente: fabricar mais dinheiro. O que os governos dos Estados Unidos e de outras partes do mundo têm feito, e continuarão a fazer, de uma maneira geral, é aumentar a quantidade de dinheiro em circulação.

Uma coisa parece certa: os impactos secundários, a tsunami econômica mundial que está por vir, arrastará consigo o que restar do terremoto inicial. Em um futuro próximo, após um lapso de tempo usual, esse excesso de moeda começará a ser sentido pelos agentes econômicos. O resultado previsível é uma depressão econômica mundial sem precedentes, em que, ao invés de deflação, a inflação exportada pelos E.U.A terá lugar de destaque (veja: Economia: Entre a Cruz e a Espada, postado em abril de 2011). Mas isso será assunto para um próximo post neste blog.
















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