sábado, 4 de junho de 2011

A Ventura deste Mundo






















Christophle Plantin nasceu na França em 1514. Aprendeu o ofício da tipografia, tornando-se um dos maiores impressores de livros de sua época, amando-os, como bibliófilo e humanista que era. Faleceu em 1589.

Escreveu:

Avoir une maison commode, propre et belle,
Un jardin tapissé d'espaliers odorants,
Des fruits, d'excellent vin, peu de train, peu d'enfants,
Posséder seule, sans bruit, une femme fidèle. 

N´avoir dettes, amour, ni procès ni querelle,
Ni de partages à faire avec ses parents,
Régir tous ses desseins sur un juste modèle,

Se contenter de peu, n'espérer rien des gens. 

Vivre avec franchise et sans ambition, 
S´adonner sans scrupule à la dévotion, 
Dompter ses passions, les rendre obéissantes. 
                           
Conserver l'esprit libre, et le jugement fort,
Dire son chapelet en cultivant ses entes, 

C'est attendre chez-soi bien doucement la mort.


Nesse seu belo soneto, Plantin enumera aquilo que, segundo ele, dá valor à vida. Não o que faz a vida apenas suportável, mas o que a torna virtuosa e feliz. Até a velhice, se possível. A felicidade, segundo Plantin, requer um bom conhecimento de si próprio para saber doar-se sem perder-se: altruísmo pragmático. Não prescinde de “uma casa simples e bela” e de “algumas crianças” ao redor. Uma vida feliz requer, antes de tudo, ausência de infelicidade: uma mulher fiel, ausência de dívidas, amizade entre parentes; humanista e renascentista que era, valorizava a liberdade individual, garantida por um espírito livre, fortalecido pela razão. Homem do século XVI, considerava que se devia minimizar as “paixões”, subjugando-as. Tendo conhecido dissabores na vida, sabia que a riqueza material, fluida, não garantia  a felicidade. Humilde, reconhecia que sobre seus ombros repousavam os espíritos de seus antecessores. Sabia que só uma vida plena e feliz pode dar lugar a uma morte boa e “doce".

Inspirado por Plantin, que soube desvendar uma enorme faceta da alma, modifiquei seu soneto, fazendo-o aproximar-se da minha alma, que não é tão diferente. Somos, afinal, todos humanos.


                                                                                                                                                                                
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