sábado, 10 de dezembro de 2011

Why Architecture Matters, por Paul Goldberger


 









Por Pedro Lobo Martins

Vitruvius, escrevendo no primeiro século AD, definiu os três elementos primordiais da arquitetura como comodidade, solidez e prazer. Paul Goldberger foi mais além: um edifício deve ser útil, bem construído e visualmente agradável, é certo, mas a arquitetura começa realmente a importar na medida em que, não obstante essas três facetas fundamentais, mais ligadas à funcionalidade e à praticidade, adquire qualidades de Arte. A arquitetura importa quando, podendo gerar prazer, pode também nos tornar infelizes; quando, podendo nos trazer o conforto do íntimo e do familiar, tem o potencial de nos deixar perplexos em meio à grandeza dos grandes espaços; quando, aliviando as nossas necessidades, pode satisfazer também os nossos desejos.

A arte pode ser definida principalmente pela intenção. Também a arquitetura possui essa qualidade, mas nela a intenção traduz-se pelo seu caráter civilizatório. Goldberger entende que a arquitetura importa quando, mais do que edifícios individuais, pode criar uma fábrica urbana que acaba por se tornar o substrato da civilidade e da civilização. Valoriza, assim, a ligação estética entre edifícios vizinhos como elemento desejável na composição urbana (isso nos faz comparar a cacofonia visual de uma cidade como Belo Horizonte com a harmonia urbana de uma Paris).

Com a invenção da prensa, no século XV, a arquitetura deixou de ser o principal veículo de propagação de ideias, como observou Frank Lloyd Wright, e o seu propósito teve que ser rediscutido. A leitura que Wright e outros modernistas fizeram da situação é a de que as ideias do passado deveriam permanecer no passado, tornando-se inútil – para não dizer imoral – procurar reinventá-las. Os modernistas inauguraram a noção do “estilo de época”, desconhecido até o século XX. Para Goldberger, talvez tenha sido excesso de pretensão.

Isso porque, para ele, a arquitetura importa quando logra comunicar sua mensagem, que transcende o puramente funcional, e foca-se no belo. Afinal a forma, a escala, a proporção, a textura e a relação com o contexto do entorno dizem muito mais sobre o sucesso de um edifício do que as associações estilísticas que aplicamos a ele, ainda que estas se curvem às vicissitudes dos tempos. E que tempos estes, pós-modernos, em que "o gosto é a única moralidade". E Ruskin ainda diz: “Dize-me de que gostas e eu te direi quem és”. De qualquer modo, sobre a labilidade das preferências, individuais ou sociais, Goldberger pretende que deva prevalecer a estética do espírito.

A alienação espiritual que se observa nos grandes centros poderia estar ligada à perda da sensibilidade estética pela maior parte das pessoas. Goldberger cita Christian Norberg-Schulz, para quem está em curso a perda de senso de lugar na sociedade contemporânea, que se reflete na perda de um entendimento poético do mundo: “a vida, de fato, não consiste de quantidades e números, mas de coisas concretas como pessoas, animais, flores e árvores; de pedras, terra, madeira e água; de cidades, ruas e casas; do sol, da lua e das estrelas; das nuvens, da noite, do dia e da mudança das estações. E nós estamos aqui para nos importar com essas coisas.”. A arquitetura importa porque pode trazer o belo para mais perto das pessoas; porque pode tornar as pessoas mais sensíveis ao belo e, assim, mais felizes.

Goldberger considera as possibilidades de criação e desafio estético inesgotáveis. Mas se as possibilidades da ciência e da tecnologia, por mais que se pretenda o contrário, são limitadas, as do espírito sensível ao belo nunca serão.