sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sweet Dreams















Começava uma linda manhã. O sol fresco da Chapada Diamantina irrompeu através da corrubiana, no alto da serrania, para aquecer de leve o meu rosto, enquanto abria a janela do quarto da pousada, em Lençóis.

E então, inspirado, criei esta música. Uma música solene, como aquelas montanhas. Um pouco triste, talvez, como a solidão. Mas tem um pouco da alegria esperada do porvir. Por isso é uma música de amor. Amor pela minha noiva, hoje minha esposa. Enquanto doces pensamentos me embalavam a alma, já cantarolava: "sweet, sweet dreams that play with the morning..."

E em seis de outubro de 2000 aquela música foi tocada à minha entrada na Basílica. Naquele momento, ao fitar aquela grande porta de madeira, escutei o coro cantar: bring her fast, fast, fast to me!.

And beautiful she came!
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Nas imagens, uma outra paixão: as grutas. Sua imensidão silenciosa torna-nos subitamente conscientes de nossa própria dimensão.

Mas se a nossa matéria é pequena, insignificante, nem mesmo os mais amplos salões do mundo, os mais vastos oceanos ou as mais altas montanhas são capazes de impedir nossos sonhos de alçar seus mais ousados voos. E transcender todos os cumes.

Die Gedanken sind frei, wer kann sie erraten?
sie fliegen vorbei wie nächtliche Schatten.

Os ruidos de fundo, estes são inevitáveis...

 


It was a lovely morning. The cool sun at Chapada Diamantina broke out through the mountain fog, high above, and gently warmed my face as I opened the window of my hotel room, in Lençóis.

An then, inspired, I made this song up. A solemn song, like those mountains. A little sad, perhaps, like solitude. But it transpires some of the joy yet to come. It is thus a love song. Love for my fiancée, now my wife. As sweet dreams rocked my soul, I saw myself singing: "sweet,sweet dreams that play with the morning..."

On October 6th 2000 that very song was performed as I walked along the Basilica's alley. And then, as I stared the great wooden door, I heard the choir sing: bring her fast, fast, fast to me!

And beautiful she came!
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The images are of another passion: caves. Their silent, sheer magnitude suddenly makes us aware of our own dimension.

But if our bodies are small, insignificant, not even the greatest among all cave chambers, the widest oceans or the highest mountains are capable of keeping our dreams from undertaking the most daring flights. And transcend all summits.

Thoughts are free, who can guess them?
They flee by like nocturnal shadows.

As for background noise, it is unavoidable...





terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Sobre lobos, ovelhas e maus pastores













Por Pedro Lobo Martins

Uma das principais preocupações dos europeus é continuar sendo o centro do mundo. No afã de manter sua auto-estima, são continuamente estimulados por uma história riquíssima e uma cultura madura, em que, infelizmente, se combinam elementos profundamente democráticos com uma tendência avassaladora à centralização política, que tantas vezes desembocou no fascismo.

Sofrendo de distúrbio bipolar crônico, a Europa alterna fases de euforia econômica, em que sua raiz democrática aflora, com momentos em que afunda no abismo das incertezas, porta para o inferno do totalitarismo.

A raiz dos males na Europa é a mesma de tantas economias do mundo atual e de tantas famílias, que repetem o mesmo erro de sempre: um desequilíbrio, no longo prazo, entre receitas e despesas. Tão simples assim.

O problema não está no capitalismo, mas na natureza humana. Nenhum sistema dá conta por inteiro da nossa mania de querermos sempre mais e de sermos melhores que os nossos vizinhos. As utopias socialistas, como pretendem ignorar os manifestantes da foto acima e como já provou a história, são as que mais se distanciam da nossa essência.

O problema está na mania neo-keynesiana dos governos e das mentalidades que os sancionam, em todo o mundo, e que, cada vez mais absortos na ciranda do populismo e do politicamente correto, aviam receitas que incluem, entre seus ingredientes, o comprometimento de recursos do contribuinte para financiar uma máquina estatal agigantada da qual o sistema bancário, confundindo sua razão precípua, se tornou seu maior sócio.

As pessoas têm razão em demonstrar contra os governos, mas pelos motivos errados. Muitos de seus empregos foram criados e mantidos por dinheiro de mentira, sem lastro, criado por governos neo-keynesianos perdulários, ainda que democraticamente eleitos, e seus bancos associados, que ninguém deixa quebrar. A bolha que agora estoura não é a do capitalismo, mas a do pseudocapitalismo de Estado que o distorceu e em que todos, inocentemente, continuam acreditando.

A armadilha está montada na Europa e, por extensão, para todo o mundo, e os buracos são dois: os totalitarismos de direita e de esquerda. Entre as alternativas, a que permanece em segundo plano, atrás dos prados verdejantes do populismo travestido de politicamente-corretismo, é a do realismo: colocar as instituições para fazer aquilo para que foram feitas, desde séculos atrás, sem distorções. Bancos emprestam para quem pode pagar. Governos não gastam o que não podem e não devem. As pessoas cuidam de suas vidas. A justiça funciona.

Só assim se poderá domar o lobo insaciável que há em todos nós, garantindo, ao mesmo tempo, sua liberdade.