terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Resenha: privatize já













Por Pedro Lobo Martins

Quase nada é mais ineficiente e degradante quanto o estado quando se mete a querer gerir uma empresa: é o Estado-trembala, Estado-ferrovias, Estado-correios, Estado-eletricidade, Estado-banqueiro, Estado-Infraero, Estado-portos, Estado-paternalista, Estado-donodisso, Estado-donodaquilo.

Enquanto houver Estado-empresário vai haver moscas e parasitas ao seu redor, em busca de grandes nacos, de migalhas e de uma gota de sangue; vai haver corrupção, da esquerda e da direita; vai haver um capitalismo deturpado, em que só os amigos do rei e sua corte se dão bem, usando o público para benefício privado. Além disso, vamos ver o dinheiro de nossos impostos sendo jogado fora para financiar um corrupto e ineficiente “nacional-desenvolvimentismo” que seria melhor chamar de nacional-estatismo, ou talvez de estatismo socialista? Ou quem sabe ainda de nacional-socialismo?!

Fique o empreendedorismo por conta dos indivíduos, que devem arcar sozinhos com os riscos, amargando eventuais prejuízos e deliciando-se (por que não?) com os lucros. Fique o governo por conta de criar um ambiente propício ao empreendedorismo, um ambiente de respeito às leis e ao Estado de Direito; um ambiente que premie o mérito e não o coitadismo; que assegure os direitos individuais, incluindo o de livre-escolha, que garanta a liberdade, incluindo a de imprensa.

David Hume dizia que a liberdade não é perdida de uma só vez: seus inimigos procuram minar nossa integridade moral e nosso poder de escolha, tolhendo nossa liberdade pouco a pouco até que não sobre mais nada. Nossa essência e nosso caráter vão-se com ela. Friedrich Hayek acertou no alvo quando percebeu que, à medida que a liberdade econômica é tomada aos indivíduos, as liberdades pessoal e política também se perdem. Os romenos e albaneses sabem bem o que significou isso. Cubanos e Coreanos sabem ainda hoje. Venezuelanos, bolivianos e argentinos estão começando a saber. E o Brasil, sob a égide do PT?

Quando o Estado começa a ampliar seu raio de ação, aumentando ao mesmo tempo seu poder sobre as pessoas, é hora de dizer um não. Um não ao estado-corruptor e àqueles que, fugindo do corolário básico da liberdade querem negá-la aos outros: a responsabilidade individual, mesmo com todos os seus custos e incertezas.

Este livro, de Rodrigo Constantino, chegou em boa hora.
(Leya, 2012)


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Joaquim e a Inquisição

Por Pedro Lobo Martins

Ligo meu computador hoje pela manhã e vejo no facebook uma postagem de uma professora de História da UFMG, falando de Joaquim Barbosa:

“Infelizmente, a fama subiu-lhe à cabeça e o ministro Joaquim Barbosa está jogando para a platéia. Intempestivo e rude, quer passar para a história como o magistrado que combateu a corrupção. Por vezes, perde a compostura e o senso de justiça...
Estranho um juiz desconhecer que o excesso de zelo e a vontade de punir podem redundar em injustiça.
E, como na Espanha de Torquemada, a massa delira...”


Torquemada? Excesso de zelo?

Infelizmente é comum a muitas pessoas, ao sentirem suas ideias de justiça (ou seu partido político) de alguma forma atacados, partirem para o denegrimento dos algozes  (ou bodes expiatórios) que eles mesmos instituem. Seria bom ter sempre o cuidado de não pretender desmerecer as ideias, ações e posicionamento atacando as pessoas por trás delas ou mesmo suas motivações pessoais. Chegou-se ao cúmulo de se levantar a suspeita de que Barbosa estaria se aproveitando da toga para vingar-se do cativeiro enfrentado por seus ancestrais. Se a maior parte das críticas não foi tão fundo, muitas cutucaram desrespeitosamente a pessoa do magistrado.

Se as ideias são sempre discutíveis e as pessoas são sempre imperfeitas, apenas as primeiras, e não as últimas, são capazes de sustentar a democracia.  E é só na democracia que as pessoas (ou, como prefere pejorativamente a professora, a ”massa” delirante, a “platéia”) podem avaliar as ideias e gostar, ou não, de quem as defende.

Invertendo a questão: não é meu gosto pela extensa obra da professora no campo da história colonial mineira (sobretudo por seus estudos sobre a "Guerra" dos Emboabas) que me tornará um incondicional admirador de sua pessoa, que alias nunca conheci.

Comparações com a inquisição parecem-me fora de propósito e anacrônicas. Torquemada e seus pares defendiam interesses da Igreja Católica no contexto de uma Reconquista ainda incompleta e dos primeiros laivos da Reforma. As decisões do STF  (Barbosa, a propósito, não é o único a votar) são apenas um tiro contra uma instituição secular (em ambos os sentidos) e arraigada, que é a corrupção. E quem melhor do que os ministros do STF para julgar a corrupção, num país em que a justiça (sobretudo nas instâncias inferiores) não é exatamente cega e onde milhares de telhados são de vidro?

É estranho a professora notar a “descompostura” do ministro Joaquim Barbosa e não criticar a frieza e inconsistência demonstradas por Lewandowski no decorrer do julgamento. Se a polidez é desejável, nem sempre acolhe a razão. Como retorquiu o próprio Joaquim Barbosa ao revisor, após este fazer notar a “rudeza" do relator:



“Em qualquer atividade humana, urbanidade e responsabilidade são qualidades que não se excluem. Mas, às vezes, a urbanidade presta-se a ocultar a falta de responsabilidade. A propósito, é com extrema urbanidade que muitas vezes se praticam as mais sórdidas ações contra o interesse público.”

É sempre bom lembrar: muitos nazistas cometeram as maiores atrocidades sem se desviarem de sua frieza, de uma "urbanidade" e até mesmo da polidez.

Nuremberg e a história, felizmente, não os julgaram por sua compostura.



domingo, 11 de março de 2012

A Princesa escreve ao Conselheiro


























Um menino lê uma carta

Dentre as lembranças mais vivas da minha infância está a "carta do Conde D´Eu ". 
 
Ficava em um quadro emoldurado na parede dos fundos do escritório do meu avô Mauro, entre duas folhas de vidro, não sei se a cópia ou a original, o que, afinal de contas, não importa. Lá estavam, bem à mostra, aquelas letras cheias de floreios em um papel já amarelado, no fim do qual nós, que já conhecíamos da escola os nomes longos e leopoldinos dos tempos misteriosos do Império, distinguíamos um nome inusitadamente curto: Gastão de Orleans. E a data: 17 de novembro de 1889. 

Mas quem era o Joaquim Delfino, a quem era endereçada a carta? Minha avó Luiza explicava que era seu avô, pai de seu pai, amigo do Conde D´Eu e do próprio imperador, de quem era Conselheiro e a quem servira como ministro da Justiça, da Marinha, da Guerra e outros cargos pomposos. No dia seguinte estava com uma cópia, tirada de em uma gaveta, e menino orgulhoso, mostrava a todos os colegas da escola pública que frequentava. Mais que atiçar a vaidade infantil, a carta me mostrou que a história não estava apenas nos livros escolares. Correndo no nosso sangue, tornava-nos parte dela. E 1889, de uma data distante, passou a ser ainda ontem. 



                                                                O Conselheiro Joaquim Delfino Ribeiro da Luz  (1824 -1903)


Meus avós se foram e a carta foi parar na gaveta profunda - e cheia de coisas estranhas - da mesa do meu pai, em seu escritório. Lá ficou junto a rolos velhos de negativos, fotos desgarradas de meninos tristes com erupções de pele, vidrinhos com dentes de leite dentro e uma papelada danada. E a carta passou a ter todo o tempo do mundo para contar àqueles objetos “modernos” aquele e outros causos que se ouviam nos derradeiros momentos do Império, e, quem sabe, desde os tempos de D. João VI.

Certamente a velha carta, que o tempo tratou de dar vida, não a ela, mas às mãos que a escreveram e aos tantos dedos que a tocaram, hoje quietos, contou suas histórias em muitas outras gavetas. Ninguém sabe por onde andou: da gaveta de Joaquim Delfino à de seu filho Joaquim Bento? Da escrivaninha deste à de seu filho Joaquinzinho? Da mesa de cabeceira do tio Joaquinzinho à gaveta de sua irmã, minha avó? 

O fato é que, de esconderijo em esconderijo, foi parar na gaveta em que repousará para sempre, depois de 122 anos, no Museu Imperial de Petrópolis. Lá, entre tantas outras, poderá contar sua história, não a objetos de ouvidos moucos, mas aos olhos sempre vivos dos que se interessarem por sua pequena história.
 
Os documentos históricos e os objetos de família são como os livros: nunca serão nossos, mas apenas passam por nós. Sobreviverão a nós se formos seus bons e fiéis guardiães. 

A carta conta suas histórias

No início da década de 1860 Joaquim Delfino Ribeiro da Luz foi nomeado conselheiro do Império. Em homenagem à imperatriz Teresa Cristina, mãe da princesa Isabel e esposa de D. Pedro II, propõe então à câmara municipal da velha Espírito Santo do Cunquibus, da qual era presidente, uma nova denominação para o lugar: Vila Cristina.

Em 1868 a jovem Princesa Isabel, de 22 anos, e Dom Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o Conde D´Eu, seu esposo francês, fizeram uma viagem pelo sul de Minas. Os objetivos, aparentemente, não eram só amarrar laços políticos e retribuir favores: após quatro anos de casamento, a Princesa Isabel queria engravidar.

                                                                                        A jovem Princesa Isabel


É que ouvira falar das “águas virtuosas” de Caxambu. Conhecidas desde há muito pelos índios Cataguases que habitavam a região, a existência das fontes hidrominerais foi tornada pública apenas no início do século XIX, quando sua fama se alastrou. O interesse do casal imperial estava voltado mais especificamente para as fontes de águas ferruginosas. É que a Princesa sofria de anemia crônica e esta, segundo os médicos, era a principal razão desua infertilidade. Passou pouco mais de um mês em Caxambu, restabelecendo-se de sua anemia. 

Era hora de pagar promessas. Após orações públicas dirigiu-se ao alto de um morro e, em cerimônia ali realizada, lançou a pedra fundamental da Igreja de Santa Isabel de Hungria. Foi lavrada ata oficial e formada uma Comissão Construtora, subscrevendo-se para isso uma quantia razoável. Joaquim Delfino muito provavelmente estava presente.

                                                                                    As fontes ferruginosas D. Isabel/Conde D´Eu


Enquanto isso, uma grande movimentação quebra a calmaria da nova vila de Cristina: naquele primeiro dia de dezembro de 1868 as sinhás usam seus vestidos e joias mandados vir da Corte. Os coronéis penduram no peito suas condecorações, suas veneras. Chega então a importante comitiva imperial, vinda de Caxambu, a fim de agradecer a homenagem prestada pela Vila Cristina à mãe da princesa. Às onze horas da manhã o cortejo entra pela rua direita. Das janelas e sacadas descem colchas rendadas. A banda toca empolgada. A multidão de todas as cores grita vivas das ruas e do alto dos sobrados. Em seguida as pessoas importantes do lugar vão até a casa de Joaquim Delfino, anfitrião do casal real, para o beija-mão protocolar. Após o banquete, todos seguem para a Matriz para ouvir o Te Deum mandado celebrar pela câmara em ação de graças “pela feliz viagem de S.S.A.A e pela distincta honra que fizerão a esta Villa com sua vizita”. Às seis horas da manhã do dia seguinte a comitiva deixa Cristina.


                                                                                      A visita do casal imperial a Cristina foi motivo de grande festa


Algum tempo se passou e a Princesa finalmente engravidou. Entretanto, as primeiras gestações não tiveram sucesso, advindo vários abortos. A primeira gravidez que levou a termo resultou em uma menina que nasceu morta, após um trabalho de parto difícil, que durou mais de 50 horas, em que os quatro obstetras que a assistiam tiveram que abrir o crânio da criança para tentar fazê-la passar pelo canal. Foi só em 1875, onze anos depois de casada, que veio à luz D. Pedro de Alcântara. Mas o menino nasceu asfixiado em conseqüência de um fórcipe e sofreu lesões no braço esquerdo, que ficou paralisado. Isso lhe valeu o apelido de Mão Seca. Nos anos seguintes a realeza brasileira ganhou outros dois herdeiros, Dom Luiz Maria e Dom Antonio.


                                                                                                   O casal imperial e seus três filhos


A construção da Igreja de Santa Isabel da Hungria seguiu aos trancos e barrancos, mesmo após o nascimento dos três filhos desejados, embora outras promessas tenham sido cumpridas de forma mais imediata. Em 6 de novembro de 1884, por exemplo, ofereceu a Nossa Senhora uma coroa de ouro cravejada de brilhantes, que mais tarde, em 1904, coroou a Imagem de Aparecida como Rainha do Brasil, e em cuja cabeça repousa ainda hoje.


                                                                                              A coroa de Nossa Senhora de Aparecida


Dois dias após a proclamação da república, Isabel e esposo estavam a caminho da Europa a bordo da canhoneira Parnayba, que os levaria ao paquete Alagoas para uma viagem sem retorno. Pode-se apenas imaginar os pensamentos que inundavam os sentidos de Isabel, que vivera seus 42 anos em terras brasileiras; um nada, se comparado a toda uma longa vida aqui vivida por seu pai, o já idoso D. Pedro II.



                                                                                                       O paquete Alagoas


Entretanto, entre tantas aflições e pensamentos desencontrados, lembrou-se daquela promessa, feita anos antes, e, fazendo da pena de seu marido certamente eco de suas palavras, escreveu àquele com quem compartilhara a mesa 20 anos antes, em Cristina, e que, desde 1885, ocupara os cargos de Ministro da Justiça e Ministro da Guerra do Brasil. Joaquim Delfino, embora agora afastado do círculo de poder no novo regime republicano, lhe parecia o único capaz de lhe acalmar esta aflição, a aflição do exílio.


Exmo. Sr. Cons.ro Joaquim Delfino,
Tendo de retirar-me, bem com pesar meu, d´este paiz não quero deixar de mais uma vez recommendar à tua protecção, em nome da Princeza e no meu, a conclusão das obras da Capella de Santa Isabel de Hungria, no arraial de Cachambú, município de Baependy. Estas obras pias, projectadas desde seu começo pela Princeza, teve (sic) certo impulso principalmente devido aos esforços de V.Exa. e de seu illustre filho o distincto engenheiro Dr.Christiano Ribeiro da Luz.
Será para nós grande satisfacção saber que não fica ella abandonada, mas que marcha para sua conclusão. Confiando pois no espírito religioso de V.Exa. e de seu digno filho, e nos sentimentos de amizade que nos tens mostrado, ouso esperar que mais uma vez tomarás em mão este piedoso emprehendimento.
Aproveito com prazer esta opportunidade para reiterar-lhe a expressão dos meus sentimentos de particular consideração e estima.
Gastão de Orleans
Bordo da Canhoneira Parnahyba,
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1889”

Não se sabe exatamente como Joaquim Delfino intercedeu a favor da continuação das obras, mas elas prosseguiram, ainda que lentamente, tomando as feições do estilo neogótico tão característico das construções religiosas de fins do século XIX e primeira metade do século XX. A partir da década de 1890 as obras foram tomadas pelo engenheiro Honorato Pereira de Carvalho, sob os auspícios do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, 15 anos mais jovem que Joaquim Delfino. 

Mayrink era detentor da maior fortuna pessoal do Brasil na época, e seus interesses abrangiam todo tipo de negócio: bancos, companhias de estradas de ferro, iluminação a gás,  imprensa, teatros e diversos empreendimentos industriais. Em Caxambu deu início à exploração comercial das águas minerais, e hoje uma das fontes do Parque das Águas leva seu nome. Graças a ele a Igreja de Santa Isabel de Hungria foi finalmente consagrada, em 1897. Na França, onde cumpria exílio e onde veio a falecer em 1921, Isabel deve ter sorrido. O velho Joaquim Delfino, no Rio de Janeiro, também sorriu. Promessa cumprida.



                                                                                                                      A Igreja de Santa Isabel de Hungria


A carta vira notícia

 Em 13 de agosto de 2011 uma pequena comitiva formada por pelos bisnetos de Joaquim Delfino: Nelson Ribeiro da Luz Lobo Martins e seu irmão Mauro Lobo Martins Jr.,acompanhados das respectivas esposas Maria Josephina e Maria do Rosário, passou por Petrópolis. No Museu Imperial esperava por eles seu diretor, Maurício Vicente Ferreira Jr. Em uma cerimônia simples Nelson, seu penúltimo guardião, assinou o termo de doação da carta, que passou a uma gaveta daquela instituição, onde estará à disposição dos pesquisadores.




                                                  Nelson assina o termo de doação da carta ao Museu Imperial,
                                                  representado por seu diretor, Maurício Vicente Ferreira Jr.   


Assim noticiou o evento o site do Museu Imperial de Petrópolis:

 http://www.museuimperial.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2070:museu-imperial-recebe-doacao-de-carta-escrita-pelo-conde&catid=14:news-releases&Itemid=107

Museu Imperial recebe doação de carta escrita pelo conde d'Eu em 1889

Recentemente, o Museu Imperial recebeu uma importante doação para seu Arquivo Histórico. O médico Nelson Ribeiro da Luz Lobo Martins doou uma carta escrita em 17 de novembro de 1889 pelo conde d'Eu para Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, que foi magistrado, político e proprietário rural brasileiro. O Dr. Nelson é bisneto de Joaquim Delfino e recebeu a carta de seu pai, após o documento ter sido passado de geração em geração.

 Como a data aponta, a carta foi escrita dois dias após a Proclamação da República. O marido da princesa Isabel estava a bordo do navio Parnaíba, que levou a família imperial até o navio Alagoas para partir para a Europa rumo ao exílio.

 Na carta, o conde d'Eu solicita que Joaquim Delfino dê procedimento às obras de construção da Igreja de Nossa Senhora da Hungria, em Caxambu (MG). A igreja havia começado a ser construída em 1868, em cumprimento a uma promessa feita pela princesa Isabel.

 A correspondência passará a integrar o acervo do Arquivo Histórico, que conta com mais de 200 mil documentos, incluindo cartas, fotografias, ilustrações e outros.

Esta informação foi replicada por pelo menos vinte e sete outros sites de notícia, entre eles: Folha on-line, O Globo, Jornal Floripa e Tribuna de Petrópolis, além de sites de diversas instituições museológicas.

  
A beleza de uma carta

 
Apenas uma carta amarelada pelo tempo, escrita a caminho do exílio. Mas onde podemos encontrar a beleza, fora da perfeição da natureza, senão nos nossos pequenos gestos de desprendimento, em meio à dor, humanos e falíveis que somos?






...

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sweet Dreams















Começava uma linda manhã. O sol fresco da Chapada Diamantina irrompeu através da corrubiana, no alto da serrania, para aquecer de leve o meu rosto, enquanto abria a janela do quarto da pousada, em Lençóis.

E então, inspirado, criei esta música. Uma música solene, como aquelas montanhas. Um pouco triste, talvez, como a solidão. Mas tem um pouco da alegria esperada do porvir. Por isso é uma música de amor. Amor pela minha noiva, hoje minha esposa. Enquanto doces pensamentos me embalavam a alma, já cantarolava: "sweet, sweet dreams that play with the morning..."

E em seis de outubro de 2000 aquela música foi tocada à minha entrada na Basílica. Naquele momento, ao fitar aquela grande porta de madeira, escutei o coro cantar: bring her fast, fast, fast to me!.

And beautiful she came!
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Nas imagens, uma outra paixão: as grutas. Sua imensidão silenciosa torna-nos subitamente conscientes de nossa própria dimensão.

Mas se a nossa matéria é pequena, insignificante, nem mesmo os mais amplos salões do mundo, os mais vastos oceanos ou as mais altas montanhas são capazes de impedir nossos sonhos de alçar seus mais ousados voos. E transcender todos os cumes.

Die Gedanken sind frei, wer kann sie erraten?
sie fliegen vorbei wie nächtliche Schatten.

Os ruidos de fundo, estes são inevitáveis...

 


It was a lovely morning. The cool sun at Chapada Diamantina broke out through the mountain fog, high above, and gently warmed my face as I opened the window of my hotel room, in Lençóis.

An then, inspired, I made this song up. A solemn song, like those mountains. A little sad, perhaps, like solitude. But it transpires some of the joy yet to come. It is thus a love song. Love for my fiancée, now my wife. As sweet dreams rocked my soul, I saw myself singing: "sweet,sweet dreams that play with the morning..."

On October 6th 2000 that very song was performed as I walked along the Basilica's alley. And then, as I stared the great wooden door, I heard the choir sing: bring her fast, fast, fast to me!

And beautiful she came!
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The images are of another passion: caves. Their silent, sheer magnitude suddenly makes us aware of our own dimension.

But if our bodies are small, insignificant, not even the greatest among all cave chambers, the widest oceans or the highest mountains are capable of keeping our dreams from undertaking the most daring flights. And transcend all summits.

Thoughts are free, who can guess them?
They flee by like nocturnal shadows.

As for background noise, it is unavoidable...





terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Sobre lobos, ovelhas e maus pastores













Por Pedro Lobo Martins

Uma das principais preocupações dos europeus é continuar sendo o centro do mundo. No afã de manter sua auto-estima, são continuamente estimulados por uma história riquíssima e uma cultura madura, em que, infelizmente, se combinam elementos profundamente democráticos com uma tendência avassaladora à centralização política, que tantas vezes desembocou no fascismo.

Sofrendo de distúrbio bipolar crônico, a Europa alterna fases de euforia econômica, em que sua raiz democrática aflora, com momentos em que afunda no abismo das incertezas, porta para o inferno do totalitarismo.

A raiz dos males na Europa é a mesma de tantas economias do mundo atual e de tantas famílias, que repetem o mesmo erro de sempre: um desequilíbrio, no longo prazo, entre receitas e despesas. Tão simples assim.

O problema não está no capitalismo, mas na natureza humana. Nenhum sistema dá conta por inteiro da nossa mania de querermos sempre mais e de sermos melhores que os nossos vizinhos. As utopias socialistas, como pretendem ignorar os manifestantes da foto acima e como já provou a história, são as que mais se distanciam da nossa essência.

O problema está na mania neo-keynesiana dos governos e das mentalidades que os sancionam, em todo o mundo, e que, cada vez mais absortos na ciranda do populismo e do politicamente correto, aviam receitas que incluem, entre seus ingredientes, o comprometimento de recursos do contribuinte para financiar uma máquina estatal agigantada da qual o sistema bancário, confundindo sua razão precípua, se tornou seu maior sócio.

As pessoas têm razão em demonstrar contra os governos, mas pelos motivos errados. Muitos de seus empregos foram criados e mantidos por dinheiro de mentira, sem lastro, criado por governos neo-keynesianos perdulários, ainda que democraticamente eleitos, e seus bancos associados, que ninguém deixa quebrar. A bolha que agora estoura não é a do capitalismo, mas a do pseudocapitalismo de Estado que o distorceu e em que todos, inocentemente, continuam acreditando.

A armadilha está montada na Europa e, por extensão, para todo o mundo, e os buracos são dois: os totalitarismos de direita e de esquerda. Entre as alternativas, a que permanece em segundo plano, atrás dos prados verdejantes do populismo travestido de politicamente-corretismo, é a do realismo: colocar as instituições para fazer aquilo para que foram feitas, desde séculos atrás, sem distorções. Bancos emprestam para quem pode pagar. Governos não gastam o que não podem e não devem. As pessoas cuidam de suas vidas. A justiça funciona.

Só assim se poderá domar o lobo insaciável que há em todos nós, garantindo, ao mesmo tempo, sua liberdade.