terça-feira, 26 de abril de 2011

Imediatistas acima e abaixo do Equador: quando governos se curvam ao consumidor

O grau de confiança nos Estados Unidos caiu. A agência de classificação de risco Standard & Poor’s  rebaixou de “estável” para “negativa” a perspectiva da dívida soberana dos Estados Unidos devido a seu déficit orçamentário, na casa dos trilhões, elevado endividamento, e à falta de implementação de políticas que possam reverter o quadro. Já se fala mais abertamente do risco de o país não conseguir pagar sua dívida.

A inflação americana ainda não saiu de controle porque o excesso de liquidez injetado pelo Fed na tentativa meio frustrada de aquecer a economia permanece retido nos bancos. Quando esse dinheiro for liberado no sistema financeiro, não dá pra dizer exatamente o que acontecerá, mas certamente a inflação não continuará comportada.

O próprio presidente Obama, em sua recente peregrinação pelos Estados Unidos propagandeando seu plano de redução do déficit (de dificílima costura: veja minha nota sobre o assunto), declarou que as finanças americanas estão em níveis “insustentáveis”. E isso vem desde tempos mais republicanos, em que as verdinhas foram gastas (ou melhor, fabricadas) com toda a liberalidade.

Tudo isso causado por uma economia que funciona na premissa equivocada de que o crescimento econômico pode ser promovido de forma sustentável no longo prazo emprestando dinheiro às pessoas para que gastem no consumo (diga-se de passagem, o governo brasileiro atual, de viés desenvolvimentista, está caindo na mesma armadilha). Acontece que o verdadeiro crescimento sustentável só é possível quando se promove a poupança interna e a postergação do consumo, que permitem a queda da taxa de juros e o financiamento dos investimentos formadores de capital. E nada disso vem acontecendo, nem acima nem abaixo do Equador. Estamos todos endividados.

Uma das raízes dessas mazelas reside em que o governo está ficando cada vez maior e mais caro e o pacato cidadão, que tem que financiá-lo, resiste quanto pode à queda do seu padrão de vida que os impostos mais altos lhe impõem. Em primeiro lugar, sangra sua poupança; depois inicia um círculo vicioso de endividamento. Isso dá uma falsa sensação de segurança até que a inflação (que é uma forma de taxação da classe média e dos mais pobres por uma sociedade nada anônima entre o governo e os mais ricos) faça todos caírem na real e a maioria ficar mais pobre.

Tomar emprestado para produzir é como os países pobres ficam ricos; tomar emprestado para consumir é como os países ricos ficam pobres. Neste momento em que o velho dilema emprego x inflação parece se impor de forma mais acentuada à nossa presidente, este conselho assume maior relevância. Estamos todos felizes: com o primeiro carro, com as férias baratas de avião, com as compras em Nova Iorque: até quando?

O primeiro problema é que os governantes querem agradar a seus eleitores nos quatro ou cinco anos de seus mandatos. Enquanto isso vão alongando os pavios para que a bomba estoure o mais adiante possível. O segundo, terceiro e quarto problemas é que os eleitores (e também a mídia) são imediatistas, não entendem de macroeconomia e, não discernindo tendências, acham que o futuro pertence exclusivamente aos adivinhos: um casamento perfeitamente democrático – e explosivo.

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